"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quinta-feira, 4 de maio de 2017

UM NOVO UNIFORME PARA UM EXÉRCITO NOVO

.

Depois da vitória em 1945, mudança de atitude em relação às tropas se refletiu também no estilo das roupas.

Por Alexandr Verchínin


Em 1946, o Exército Vermelho, que tinha acabado de vencer a Alemanha na Segunda Guerra Mundial, passou a se chamar oficialmente soviético. Com a mudança de nome, o Exército deixou de ser visto como uma força armada da “futura revolução comunista mundial” e adquiriu o estatuto de forças armadas nacionais do Estado soviético. Mas este processo teve início ainda durante a guerra.

A introdução de platinas (insígnia de ombro) foi um claro retorno às tradições do antigo Exército russo. Depois da vitória militar em 1945, a maior já obtida pelas forças armadas da Rússia, era inevitável uma mudança de atitude em relação às tropas.

Naquele mesmo ano, os generais soviéticos receberam um novo uniforme de gala – um jaquetão azul-esverdeado fechado com abotoamento duplo. A cor dele foi logo apelidada de "tsarina", em referência à cor popular no Exército imperial, antes da Revolução de Outubro. Os punhos da jaqueta levavam agora um bordado de ouro e prata – mais uma referência clara ao tempo dos tsares.

O uniforme tinha, contudo, um detalhe característico: o botão de cima era removível para facilitar a colocação das condecorações. No final da guerra, um líder militar soviético comum acumulava tantas que mal cabiam no peito.

Os sargentos e soldados do Exército soviético não tiveram alterações no uniforme depois de 1945 – a vestimenta já era tão prática em condições de combate que não havia motivo nenhum para deixar de usá-la.


Uniforme pós-Stalin

Uma revisão mais séria dos uniformes militares começou a ser feita somente depois da morte de Stalin e foi iniciada pelo marechal Jukov, um herói da guerra. As alterações mais importantes foram feitas nos uniformes dos oficiais superiores, dos generais e marechais.

A principal delas foi a transição da tradicional túnica fechada para outra com novo corte e aberta. Debaixo dela usava-se camisa branca com gravata, e folhas de carvalho bordadas e ouro e prata no colarinho. No nó da gravata os marechais tinham uma grande estrela, uma insígnia especial de distinção da mais alta patente militar. Eles também recebiam o cinturão com fios de ouro e a adaga do traje cerimonial.

O quepe dos oficiais também sofreu alterações. O tamanho da copa aumentou e foi fixado um emblema de estrela vermelha cercada por espigas douradas. Esse item do uniforme se manteve praticamente inalterado até o final das forças armadas da União Soviética e ao aparecimento dos novos símbolos do Exército russo moderno.

O quepe dos oficiais passou a ter abas mais largas


O uniforme de campo e diário dos oficiais sofreu menos alterações: com o tempo, a túnica fechada foi dando espaço à aberta. Quando estava quente, os oficiais tinham permissão para usar apenas a camisa e gravata cáqui. O quepe com copa aumentada também passou a ser cada vez mais comum no serviço comum diário.

Depois da guerra, os oficiais começaram a voltar de bom grado à tradição pré-revolucionária de enfeitar partes da jaqueta com bordado a ouro – isso era elegante e ressaltava a dignidade dos oficiais. No entanto, tiveram que voltar a adotar os botões e platinas em cor cáqui já em 1956. A repressão da revolta húngara havia mostrado que os botões dourados continuavam sendo um alvo fácil para os snipers.


Perdas e ganhos

Em 1969, os soldados e oficiais soviéticos voltaram pela última vez a receber um novo uniforme. Até então, o uniforme de campo dos soldados havia sofrido poucas alterações. O soldado comum soviético continuava a se parecer com aquele que combateu na Segunda Guerra Mundial.

Foi às vésperas da década de 1970 que ocorreu a maior transformação no uniforme: perdeu a “guimnastiôrka” (tipo de camisa sem abertura comprida e larga), que até então era considerado o seu principal elemento desde os tempos dos czares. Isso porque essa peça apresentava um defeito nas condições da guerra moderna: tinha que ser vestida e despida pela cabeça. A “guimnastôrka” tinha então de ser rasgada.

guimnastiôrka, tradicional camisa fechada utilizada pelos soldados desde o tempo dos czares, foi substituída por uma túnica aberta


No caso de o soldado se encontrar em uma área afetada por radiação nuclear, isso representaria um perigo para a sua saúde. Por isso a liderança do Exército propôs introduzir, em seu lugar, a túnica, que podia simplesmente ser desabotoada.

As calças dos soldados passaram a ser menos ‘ensacadas’, enquanto a boina “pilotka”, um atributo do Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial, foi preservado, bem como as botas enceradas.

 
Soldado soviético durante a 2ª Guerra Mundial utilizando a guimnastôrka

Soldado do Exército soviético do pós-guerra: novo capacete, nova túnica e novas insígnias



O uniforme era confeccionado de tecidos de algodão ou com mistura de lã, já que era prático para a variabilidade climática da União Soviética. Para aqueles que serviam o exército nas regiões quentes da Ásia Central foi desenvolvido um uniforme especial: chapéu tipo panamá com abas para substituir a “pilotka”, e sapatos em vez de botas.

Também surgiram pela primeira vez nas unidades de infantaria a “telniachka” –  camisa interior de listras horizontais que se vestia por debaixo da túnica. Para distinguir a especificidade das tropas de paraquedistas, as listras da camisa eram azul-celeste.

O uniforme do paraquedista soviético – jaqueta curta, calças, cuja bainha ficava presa dentro das botas, boina e a tal camisa listrada – sobreviveu ao próprio Exército soviético e hoje se mantém, com algumas alterações, no Exército da Rússia moderna.

Fonte: Gazeta Russa


Nenhum comentário:

Postar um comentário