"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

A "MATADEIRA" DE CANUDOS

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Por José Gonçalves do Nascimento



O Withworth 32 era uma geringonça de 1,7 tonelada, que precisava de 20 juntas de bois para ser puxado. Os sertanejos apelidaram-no de "matadeira". A condução dessa poderosa máquina de guerra até os sertões da Bahia afigurou-se um erro de estratégia dos militares, visto tratar-se a mesma de uma peça excessivamente pesada e, por conseguinte, imprópria para regiões acidentadas, como aquela em que tinha curso o conflito armado entre o Exército Brasileiro e os adeptos de Antônio Conselheiro. Tratava-se de um artefato de uso da Marinha do Brasil, que acabou incluído no rol de armamentos destinados à guerra de Canudos. 

O Withworth 32 era um canhão pesado, pouco adequado para ações no terreno acidentado do sertão



Sobre ele escreveu Euclydes da Cunha: 

“...A pesada máquina, feita para a quietude das fortalezas costeiras - era o entupimento dos caminhos, a redução da marcha, a perturbação das viaturas, um trambolho a qualquer deslocação vertiginosa de manobras”. E arremata: “Era preciso, porém, assustar os sertões com o monstruoso espantalho de aço”
( CUNHA, Euclydes da. Os Sertões, 1ª edição. Rio de Janeiro: Laemmert & C. Editores, 1902, p. 391).



“Era dificílimo acertar o alvo com esse canhão. A balística exigia cálculos a cada tiro, havia mais de um engenheiro para cada canhão”, afirma o escritor Godofredo de Oliveira Neto, sobrinho neto do general Mesquita, oficial na guerra de Canudos. No dia 29 de junho (1897), durante intenso canhoneio, o Withworth 32 sofreu uma explosão, provocando a morte de dois oficiais do exército: o médico Alfredo Gama e o 2º tenente Odilon Coriolano. A peça estava posicionada no Alto da Favela, de onde tentava bombardear o povoado de Canudos. Alguns historiadores acham que a explosão se deveu a uma sabotagem dos canudenses, que se infiltraram nas tropas da quarta expedição, usando uniformes militares.

Certa feita, Antônio Pajeú e Joaquim Macambira Filho formaram um grupo, junto com outros 10 combatentes, para atacar o canhão. Todos foram mortos nesta heroica tentativa. Apenas um conseguiu escapar para contar a história (No hino da artilharia brasileira há uma referência a este fato). Abandonado pelas tropas no final da guerra, o Withowort 32 receberia, anos mais tarde, os cuidados do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca), sendo posto em imponente pedestal. Em 1940 recebeu a visita do presidente Getúlio Vargas, que cumpria agenda política na Canudos pós-conselheirista. 

Muito desgastada pela exposição ao tempo, a "Matadeira" repousa em Monte Santo



Com a construção do açude do Cocorobó, nos anos sessenta, foi transportado para Salvador, ficando exposto no Museu do Unhão. Em 1983, foi removido para a cidade de Monte Santo, onde permanece até hoje. Ali, ele divide espaço com mais dois monumentos: a estátua do Conselheiro e o busto do Marechal Bittencourt.



Fonte: Jornal do Sertanejo


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Um comentário:

  1. Tem uma foto de um canhão no Museu do Exército, no Rio de Janeiro, que dizem ser da "Matadeira", mas é completamente diferente do canhão da foto acima, que está em Monte Santo. Você pode explicar qual, realmente, é o canhão chamado "A Matadeira", da Guerra de Canudos?

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