"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



terça-feira, 15 de novembro de 2011

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR – MARECHAL TURENNE

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* 11/09/1611 – Sedan, França

+ 27/09/1675 – Salzbach, Palatinado

Henri de La Tour d’Auvergne nasceu em Sedan, em 11 de setembro de 1611, e recebeu uma educação Huguenote e a formação usual de um jovem nobre da época, mas uma enfermidade física e, particularmente, um impedimento da fala (que ele nunca perdeu), prejudicaram seu progresso, embora mostrasse um pendor destacado para a história e geografia, em especial a admiração das façanhas de Alexandre, o Grande, e César. Após a morte de seu pai em 1623, dedicou-se aos exercícios físicos e de uma certa forma superou sua fraqueza natural.
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Na idade de quatorze anos, Henri foi aprender a arte da guerra no campo de seu tio, Maurício de Nassau, Regente da Holanda e Príncipe de Orange, e começou sua carreira militar, como soldado na guarda do príncipe, durante a revolta holandesa.
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.Henri de La Tour d’Auvergne, mais tarde nomeado Visconde de Turenne e Marechal da França, aprendeu e praticou a arte militar com os seus dois tios Nassau (Maurício e Frederico-Henrique) e o sucessor militar de Gustavo Adolfo, Bernardo de Saxe-Weimar, que lhe transmitiu o melhor dos conhecimentos do célebre rei sueco. Foi também, na Idade Moderna, um dos poucos franceses que inspiraram Napoleão. Sobre ele, Napoleão disse: “De todos os generais que me precederam e talvez me seguirão, o maior de todos é Turenne.”

A arte da guerra no tempo de Turenne
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Para melhor compreendê-lo, é necessário recordar as condições em que se combatia então na Europa Ocidental, durante a Guerra dos Trinta Anos, quando Turenne iniciava sua carreira militar.
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.A arma principal no campo de batalha ainda era a cavalaria, aliás, desorganizada e pouco disciplinada, enquadrada por uma nobreza tão turbulenta quanto intrépida. A infantaria já se achava mais organizada; mas sua arma de fogo – o mosquete – demorava tanto para ser carregado, que precisava ser protegida pelos piqueiros, o que a tornava pesada e pouco manobrável. Os progressos que experimentou sob Nassau e Gustavo Adolfo consistiram, em resumo, na diminuição desses aspectos negativos e não na sua supressão. A artilharia estava ainda longe de assumir sua feição de arma e a engenharia somente apareceria no final do século XVII.
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Não se travava batalha senão quando se era obrigado a fazê-lo, pois o atacante raramente tinha vontade de se arriscar e preferia investir contra uma praça forte a ali ganhar os louros de um sítio vitorioso.
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No que diz respeito à logística, a subsistência das tropas influía na conduta das operações, pois elas viviam literalmente dos recursos locais, o que levava os generais a ocuparem, no fim de uma campanha, uma área que ainda dispunha de recursos para refazer seus exércitos.
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.De tudo isso, resultaram guerras longas, cujo desfecho era obtido por meio de uma lenta usura do adversário - aliada à habilidade militar e diplomática – e tenacidade; e não por um ato violento e decisivo – a batalha – tal como a encara a doutrina contemporânea.

O comandante militar
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Desde cedo Turenne revelou diversas virtudes militares. Na retirada que os franceses foram obrigados a fazer em 1635, do Reno para o oeste, Turenne, então um coronel comandante de regimento, partilhava com seus soldados os víveres que conseguia obter, esvaziava seus próprios trens para transportar os estropiados e cedia a um soldado esgotado pela marcha sua própria montaria, prosseguindo a pé. Com cerca de trinta anos de idade e dez de intensa vida profissional, já conquistara títulos de bravura e a reputação de “pai dos seus soldados”.
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Em 1643, o Governo deu-lhe o comando do Exército da Alemanha, o qual reorganizou com sacrifícios pessoais e disciplina. Em 1646, informado de que as tropas do Imperador e da Baviera, reunidas, marchavam contra os suecos, aliados dos franceses, Turenne, agindo por sua própria iniciativa, decidiu transpor o Reno em Wesel, a oitenta léguas do ponto que se achava, o que fez após marcha de 14 dias. Acompanhou o Reno para o sul, pela margem direita, e fez junção com os suecos.
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.Diante de forças inimigas mais numerosas, Turenne transpôs novamente o Reno, avançou em direção ao Danúbio, o qual também cruzou, e atingiu Augsburgo, na retaguarda dos austríacos, forçando-os a se retirar apressadamente para a Áustria. Os bávaros, abandonados por seus aliados austríacos, foram obrigados a aceitar a paz.

Selo francês homenagenado o Marechal Turenne

Em 1648, o marechal, unindo suas forças com as suecas, depois de transpor o Reno, repeliu os imperiais para o sul do Danúbio, atingiu e bateu sua retaguarda, comandada por outro general famoso de então – Montecuccoli -, perseguiu tenazmente a força adversária, caiu de surpresa sobre a passagem do rio Iser e atingiu o rio Inn, traçando, assim, a rota de Napoleão antes da batalha de Austerlitz.
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.Em suas operações em trono de Arras e de Dunquerque, revelou-se como o chefe que não deixava coisa alguma ao acaso; não só aquilo que se ligava ao fator material, mas, também, e em maior medida, ao aspecto moral.

Reorganização e novas campanhas
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No período que precedeu a Guerra da Devolução (1667-1668), Turenne empenhou-se na reorganização da cavalaria, procurando dela afastar os nobres que buscavam bater-se pela glória, mas que não se associavam à tropa em tempo de paz, substituindo-os por oficiais mais modestos que, em compensação, pudessem ganhar mais experiência e ser mais assíduos no cumprimento de seus deveres. E, para resolver de uma vez por todas os perniciosos efeitos de um oficial sem experiência assumir o comando de dois regimentos de cavalaria atuando juntos, tornou consagrada a instituição dos brigadeiros, reforma que, em breve, se estenderia à infantaria.
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Durante a Guerra da Holanda (1672-1678), realizou sua obra prima: a campanha da Alsácia. Acorrendo de Landau, apesar de se encontrar em grande inferioridade numérica, atacou os imperiais em Etzheim (1674), detendo a invasão alemã da Alsácia. Aparentando desistir da luta nessa província, fez com que suas forças atravessassem os Vosgues na região de Saverne, como se fossem invernar na Lorena. Não se detém aí e, já com a neve caindo pelos caminhos lamacentos dos Vosgues, entrou na Alsácia, surpreendeu os alemães e os derrotou, assim como o exército do Eleitor de Brandemburgo, reunido em Turkeim (5 de janeiro de 1675). Tal como prometera, liberou a Alsácia em uma campanha fulminante de dezesseis dias, sob condições adversas. Turenne tinha, então, 64 anos de idade.

A morte de Turenne, durante um reconhecimento no Palatinado

O legado de Turenne
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.Pouco depois da vitória na Alsácia, em seguida a uma nova transposição do Reno, Turenne foi morto durante um reconhecimento perto de Salzbach, no Palatinado .
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As campanhas de Turenne, quando projetadas sobre a paisagem geralmente monótona das operações dos dois últimos séculos da Idade Moderna, já o credenciariam como grande capitão. Suas idéias, no entanto, o credenciaram ainda mais como grande homem de guerra. Estudando o valor relativo dos teatros da Flandres e da Alsácia, alertou a Luís XIV sobre a maior importância do último, aconselhou-o sobre o melhor emprego a fazer de suas reservas e indicou Châlons como ponto mais recomendável para seu estacionamento. Uma vez mais desaconselhou a guerra de sítio e lançou a idéia mestra da defesa da França pela ofensiva além do Reno e pelo eixo do Danúbio.
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Turenne personificou bem o equilíbrio entre o talento e o caráter, equilíbrio que, no dizer de Napoleão, faz os grandes generais.

Fonte: Texto adaptado da obra A Arte da Guerra, de Francisco Ruas Santos.

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