"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



sexta-feira, 23 de julho de 2010

BATALHA NAVAL DE CORONEL - 1914

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Quando começou a 1ª Guerra Mundial na Europa, no Extremo Oriente uma pequena esquadra de navios da Alemanha Imperial operava, composta por dois navios gêmeos - os modernos cruzadores-blindados Scharnhorst e Gneisenau, cada qual armado com oito canhões de 208mm e seis canhões de 152mm - e pelos cruzadores ligeiros Emden, Dresden, Leipzig e Nürenberg. O comandante da pequena esquadra era o almirante Maximilian Graf von Spee, que tinha como navio capitânea o Scharnhorst.

O poderoso cruzador-blindado Scharnhorst que, como seu navio gêmeo Gneisenau, era armado com oito canhões de 208mm e seis de 152mm


Cerca de um mês antes do início da guerra, a esquadra tinha recebido ordens para se dirigir da sua base no porto de Tsing-Tao, no sul da China, para o Pacífico Sul. Com o início das hostilidades, o comandante alemão decidiu dirigir-se para as águas da América do Sul, onde poderia obter abastecimentos em países neutros, ao mesmo tempo em que se afastava da zona de influência da poderosa esquadra Japonesa, uma vez que o Japão aliara-se à Grã Bretanha.

O mais rápido navio da pequena esquadra, o Emden recebeu foi liberado por Von Spee para navegar isoladamente e atacar os navios mercantes britânicos no Oceano Índico.

Sabendo que os alemães tinham enviado a sua esquadra da Ásia para as águas do Atlântico Sul, o Almirantado britânico enviou diversos navios para a sua base em Port Stanley, nas ilhas Falkland, ao largo da costa da Argentina, sob o comando do Almirante Cristopher Cradock.
Alguns deles receberam ordens para ultrapassar o cabo Horn, dirigindo-se para a costa do Chile. Dois cruzadores, um cruzador ligeiro e um cruzador auxiliar, o HMS Otranto, que era nada mais que um navio de passageiros com alguns canhões instalados, e que foi utilizado apenas para detectar o inimigo, tendo depois saído da área à velocidade máxima.

Cruzador HMS Monmouth

O envio das forças foi apressado e foram engajados na ação navios com tripulações de reservistas que tinham pouco treino. O navio-capitânea era o velho cruzador HMS Good Hope, apoiado pelo cruzador HMS Monmouth. O HMS Good Hope era um cruzador de 14.100 toneladas com dois canhões de 236mm, 16 canhões de 152mm e 15 canhões menores, podendo atingir uma velocidade de 23 nós. O HMS Monmouth deslocava ligeiramente menos de 10.000 toneladas e tinha 14 canhões de 152mm e, na teoria, também podia atingir 23 nós.

Estes navios britânicos tinham sido colocados na reserva e reativados de maneira emergencial quando a guerra começou. Armados com canhões antigos e essencialmente de calibre 152mm colocados nos costados e numa posição tão baixa que impedia parte dos canhões de sequer disparar, os navios estavam em desvantagem perante os oito canhões de 208mm de cada um dos dois cruzadores-blindados alemães.

A pressa britânica em enviar contra os alemães os navios que estavam disponíveis, no entanto, justificava-se depois de se ter visto o estrago que era possível fazer com apenas um cruzador – o Emden – que aterrorizava a navegação mercante no Oceano Índico. O objetivo dos britânicos era o de pelo menos infligir alguns danos aos navios alemães, os quais, a grande distância da sua base e sem grandes possibilidades de efetuar reparos, acabariam condenados.

O velho cruzador HMS Good Hope


A pressa e a urgência justificaram o não emprego do couraçado HMS Canopus, que estava nas Falklands e possuía quatro canhões de 305mm. Contra a utilização do Canopus jogou o fato de o navio ter uma velocidade máxima de 18 nós, o que tornaria a força britânica extremamente lenta.

Dos navios britânicos, o mais rápido era o cruzador ligeiro HMS Glasgow (26 nós), que recebeu ordens claras para se afastar dos alemães no caso de os principais navios serem atingidos.

A frota alemã deixando o porto de Valparaíso, no Chile, em 3 de novembro de 1914


As duas esquadras avistaram-se ao largo da costa chilena junto à ilha de Coronel por volta das 16:30h do dia 1º de novembro de 1914. A batalha começou ao pôr do sol, por volta das 19:00h. Os navios britânicos encontravam-se a oeste dos navios alemães, pelo que, àquela altura, recortavam-se contra o sol, sendo assim muito mais fáceis de distinguir pelos artilheiros alemães. Ao contrário, os navios alemães eram difíceis de distinguir contra a penumbra da noite que começava a despontar a leste.

A batalha durou apenas uma hora, e a superioridade dos alemães foi clara, especialmente porque seus artilheiros estavam muito melhor treinados e a cadência de tiro dos navios alemães era, em média, três vezes mais rápida que a dos navios britânicos.

Com as silhuetas bem visíveis contra o céu vermelho e dourado do cair da noite, o HMS Good Hope e o HMS Monmouth foram atingidos diversas vezes. Um oficial do HMS Glasgow registrou:

“Às 19:45h, quando já estava bastante escuro, o Good Hope e o Monmouth estavam evidentemente em apuros. O Monmouth fez uma guinada para estibordo, consumido com fúria pelas chamas. [...] o Good Hope [...] somente fazia fogo com alguns canhões. O brilho dos imcêndios a bordo aumentava a cada instante. Às 19:50h houve uma terrível explosão entre o mastro principal e a chaminé de ré, e as labaredas atingiram uma altura de quase cem metros, inflamando uma nuvem de destroços que subiu ainda mais alto no ar. Via-se somente um casco escuro iluminado por um brilho mortiço. Ninguém o viu afundar de fato, mas não pode haver durado muitos minutos.”



No final do combate os dois maiores cruzadores britânicos foram colocados fora de ação pelos canhões alemães. O HMS Good Hope afundou às 19:57h e o HMS Monmouth às 21:18h, tendo o cruzador HMS Glasgow conseguido escapar por causa da sua velocidade superior.

A perda de vidas no HMS Good Hope e HMS Monmouth foi total. Dos 1.600 homens a bordo que não morreram no duelo de tiros de canhão pereceram na fria escuridão do pacífico Sul, incluindo o Almirante Cradock, comandante da frota britânica. Apenas três alemães ficaram feridos. O HMS Glasgow, embora atingido cinco vezes, não sofreu baixas, nem tampouco o HMS Otranto, que prudentemente se retirara mais cedo do cenário, pois não estava equipado para participar da batalha. Os dois sobreviventes escaparam em direção ao sul a toda velocidade, a fim de encontrar o HMS Canopus e, em sua companhia, retornar às Falklands.

O Almirante Cradock, comandante da frota britânica, afundou em Coronel junto com seus cruzadores


A Batalha de Coronel, travada em 1º de novembro de 1914, foi a primeira derrota naval britânica desde a guerra contra os EUA em 1812, e a primeira derrota de uma força de navios de guerra britânicos desde a batalha dos cabos da Virgínia em 1781.

Com uma vitória tão retumbante, o almirante Graf von Spee, decidiu contornar o cabo Horn e rumar na direção das ilhas Falklands, para ali destruir a base de apoio britânica, reabastecer com carvão e tornar de volta à Alemanha. Ao largo das ilhas, no entanto, a Marinha Real daria o troco, afundando os dois principais cruzadores alemães.

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Um comentário:

  1. Muito bem esclarecido pelo Professor Carlos Daróz, uma parte da história que quase ninguém conhece e fiquei sabendo que após essa batalha, o HMS Glasgow foi reparado no Brasil.

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