"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

AS DIVISÕES E OS CORPOS-DE-EXÉRCITO DE NAPOLEÃO



Um dos mais significativos desenvolvimentos no comando e controle durante a Revolução Francesa e as guerras napoleônicas foi a introdução da divisão de combate e dos corpos de exército. O tamanho crescente dos exércitos durante o século XVIII, bem como o emprego simultâneo de tropas em diversos teatros de guerra impuseram uma necessária reorganização administrativa dos exércitos europeus. Geralmente, a unidade padrão militar era regimento de infantaria, composto por um ou dois batalhões de combate e um batalhão de depósito. Regimentos de cavalaria também seguiam este padrão, embora os seus esquadrões pudessem ser divididos entre os exércitos em teatros diferentes.

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O comandante do Exército, portanto, precisava controlar vários batalhões e esquadrões nos níveis estratégico, operacional e tático. Isso criou uma enorme sobrecarga para o pessoal do Exército, que tinha a responsabilidade de manter o controle das unidades, mantendo-as devidamente supridas e garantindo que as ordens fossem divulgadas em tempo hábil. Esta não era uma tarefa fácil. A coordenação de dezenas de milhares de homens em campanha muitas vezes levou à confusão e à ineficiência. Para reduzir a dificuldade, os exércitos europeus eram frequentemente organizados em alas ad hoc, colunas (Abteilungen), divisões e brigadas, de cuja composição dependia inteiramente a natureza da missão em questão. Acima do escalão regimento não havia padronização na organização do Exército .

. Em 1759, durante a Guerra dos Sete Anos, o Duque de Broglie (1718-1804) estabeleceu as divisões de combate no Exército francês, mas essas formações, na época, eram temporárias. Também durante o século XVIII, o exército francês introduziu a divisão militar administrativa. A França foi dividida em regiões e cada general de divisão era responsável pelos regimentos aquartelados nas guarnições dentro de sua jurisdição. Esta organização, no entanto, não traduzia a divisão de combate permanente, que surgiria somente durante as Guerras Revolucionárias Francesas (1792-1802), embora tenha fornecido as bases para esse desenvolvimento.
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Pierre de Bourcet (1700-80), um oficial de estado-maior, defendeu a introdução da divisão como uma formação padrão em seu Principes de la Guerre des Montagnes, escrito na década de 1760-1770. A organização em Divisões permitiria ao exército avançar ao longo de rotas paralelas e concentrar-se-se rapidamente para a batalha. A formação facilitaria uma maior eficiência na prestação de campanha e para a circulação rápida de um maior número de tropas a grandes distâncias, ao contrário de um exército com uma única estrada, movendo-se lentamente e sobrecarregados com os comboios de abastecimento. Para esse fim, outro teórico militar francês, o Conde de Guibert (1743-90), argumentou em seu Essai de tactique geral, do início de 1770, que os exércitos deviam dispensar seus comboios de abastecimento a fim de aumentar a sua flexibilidade e mobilidade.
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Marchar divididos, lutar unidos
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A divisão começou a se desenvolver em meados do século XVIII, como um meio de melhorar a mobilidade estratégica de um exército e facilitar seu e comando. Um general comandando um exército não precisava mais manter o controle de cada batalhão e esquadrão, mas apenas de suas divisões. Enquanto isso, os generais de divisão ficavam responsáveis por controlar os seus respectivos regimentos. De fato, enquanto a organização divisionária francesa era testada, foi introduzida também a brigada de infantaria - uma unidade formada por dois regimentos de infantaria. A Prússia também organizou o seu exército em brigadas, mas não adotou a divisão de combate. O que fez a divisão francesa original foi a integração da artilharia e da cavalaria na ordem de batalha. Antes, normalmente a artilharia e a cavalaria ficavam sob o controle direto do comandante do exército, que as distribuía a seus subordinados, conforme necessário. Ao integrar a artilharia e a cavalaria na estrutura de divisão, o exército francês passou a possuir o maior poder de fogo, embora a capacidade de reconhecimento tenha sido diminiuída.

.As Divisões poderiam marchar divididas, enfrentar o inimigo com autonomia adequada para um curto período, ou serem reforçadas por outras divisões. O princípio era frequentemente citado como "marchar divididos, lutar unidos".

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Durante as guerras revolucionárias francesas, o aumento do tamanho dos exércitos de campanha obrigou os revolucionários a introduzir a divisão de combate como uma entidade permanente dentro da organização do exército. Cada divisão era composta por duas brigadas de infantaria, um destacamento de cavalaria - esquadrão ou regimento - e uma bateria de artilharia. Às vezes, os generais atribuíam o comando de várias divisões a um único comandante subordinado, dependendo do plano de operações. O General Andre Massena (1758-1817), por exemplo, comandou duas divisões do exército de Napoleão na Itália, em 1796; o mesmo ocorreu com o General Kleber na Bélgica, em 1794.

.Napoleão expandiu o conceito de divisão e introduziu o corpo-de-exército. Tal organização havia existido durante a revolução, mas caráter temporário. Cada corpo era constituído de duas ou três divisões de infantaria, uma brigada de cavalaria (mais tarde uma divisão), divisão de artilharia e uma reserva de artilharia de corpo. Companhias de engenharia e turmas de estado-maior complementavam o corpo-de-exército, que atingia efetivos de 20.000 a 30.000 homens.

O corpo-de-exército era comandado por um marechal de França ou, ocasionalmente, por um general de divisão. Um corpo francês também, como uma legião romana, em geral, permanecia em um determinado teatro europeu. Assim, o alardeado III Corpo do Grande Armée, comandado pelo Marechal Louis Davout, manteve sua composição desde sua criação em 1803 até 1812 e foi baseado na Alemanha.

Doutrinariamente, o corpo francês operava em eixos independentes pré-determinados, mas com capacidade de apoio mútuo. Isto permitiu que Napoleão coordenasse seu Grande Armée em campanha com maior flexibilidade do que seus adversários podam controlar seus exércitos. Durante a campanha de 1806 contra a Prússia, Napoleão articulou o seu exército, essencialmente, em três colunas de três corpos.. Cada corpo deslocava-se a meio dia de marcha do que o sucedia, de modo que, em qualquer direção, todos os três corpos podiam ser reunidos no prazo de um dia.
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A Prússia e a Áustria adotaram o sistema de divisões no início do século XIX, mas mantiveram-se, em grande parte, com divisões administrativas. As divisões combatentes somente seriam implantadas nestes exércitos a parir de 1809. Os russos não desenvolveram divisões militares e divisões de combate até 1805, mas, quando o fizeram, estas se apresentavam extremamente complicadas e faltava o pessoal adequado para liderar as brigadas e regimentos de forma eficiente.
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Na Grã-Bretanha, as brigadas e divisões eram organizadas de maneira ad hoc, cujas formações eram estabelecidas para cumprir missões específicas.


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